Eu
nasci num recanto feliz. Bem distante da povoação. Foi ali que eu vivi muitos
anos. Com o papai, a mamãe e os irmãos... até que finalmente parti
de Montividiu, saí daquela vida pacata do interior, daquela falta de novidade
e, felizmente, daquelas músicas chatas que o tio Jarbas cantava nas festas. Vocês não sabem o que é ter um tio aspirante a cantor, mas que não tem talento,
entoando música caipira madrugada adentro.
Melhor eu voltar para a minha mudança.
Retomando, eu fui para Goiânia fazer faculdade, fazer amigos, fazer inimigos,
fazer sexo, fazer amor, enquanto a outra pessoa queria só fazer sexo... enfim,
fazer um monte de coisas novas.
Moro nesta cidade há oito anos. Portanto,
já estou mais que habituado com Goiânia, com os goianienses, e com os mato-grossenses,
maranhenses, tocantinenses, paraenses, brasilienses e outros enses que desembarcaram aqui. E não só as origens, mas também os grupos
são vários. Destes, há dois que me incomodam muito: o grupo do sertanejo
universitário e o dos alternativos extremistas. Não sei bem onde me
encaixo, talvez no das pessoas normais [risos]. Veremos mais adiante o quanto minha
vida é normal [mais risos].
Minha profissão: jornalista. Óh!
Grande coisa, hein?! Na verdade, pequenas coisas: o salário de fome, a autoestima
de uma formiga e a esperança falecida. Mas como dizem que a felicidade mora nas
pequenas coisas [cof, cof...], tento me conformar e batalhar nessa área. Inclusive,
hoje começo em um novo emprego, uma oportunidade que eu estava esperando há
muito tempo: vou trabalhar no Jornal Sensação, um diário de notícias populares,
que se torcer sai sangue e se sacodir sai silicone. Por que minha alegria?
Salário melhor ;). Vamos nessa!
NO JORNAL
O elevador abre, entro pela porta
da empresa, e passa por mim uma funcionária chorando. Dou mais um passo e vem
um cachorro rosnando, e o bicho morde minha calça! Puta que pariu! Vem uma
madame, que diz: “Dudu, assim você estraga seus dentinhos! O veterinário fez o
clareamento hoje.”. Puta que pariu em dobro! Ela pega o cachorro, e sem falar
comigo entra no elevador. Vem um colega e fala comigo: “É a mulher do chefe.
Liga não, aqui é desse jeito! Você deve ser o Saulo. Eu sou Toni, seu colega de trabalho”.
Mais uma pessoa passa chorando
para o elevador. Em seguida vem um sujeito estilo hipster esbravejando: “Hoje é
dia de afujentar os incompetentes! Baní-los dessa revista, já que não posso
baní-los do mundo. Só se fizerem isso por conta própria. Seria um favor a
todos.”. Ele aponta pra mim um dedo com a unha pintada de amarelo e diz: “Já
aviso, novato: aqui erros não são admitidos, mas sim demitos!”. E riu de sua
própria piada podre, muito podre.
Toni foi superbacana, me apresentou o funcionamento do jornal, os
colegas de trabalho e já me deu uns toques. Literalmente uns toques no meu
corpo, mas já fui deixando claro que não gosto. Levei na esportiva. Ele não
disfarça nem mesmo seu interesse pelo diretor do jornal, Matias, um quarentão
que pelo visto tem uma esposa insuportável. Toni me deu dicas sobre Órion, o
capeta hipster. É um jornalista renomado, que já passou por várias revistas em
São Paulo e no Rio, escrevendo críticas de arte. Veio para cá ninguém sabe o
porquê, ainda mais mudando para o segmento popular. História muito estranha.
Nesse primeiro dia, não tive que escrever muito. Me conformei em apenas
entender o funcionamento do jornal e acompanhar a montagem da edição que iria para
a prensa no dia seguinte.
DÊ O PLAY NA MÚSICA-TEMA DA SÉRIE!
E AGORA confira em primeira mão a capa do Jornal Sensação de amanhã.
Ó céus! Até bateu um arrependimento. Qual será minha primeira matéria? Lobisomem do Madre Germana? As polêmicas da mulher-pequi? Briga no terminal Praça A? O que abre e o que fecha no feriado? A revolta de emos do Vaca Brava? Melhor não pensar demais, vamos deixar que cada dia traga seu sabor, e pelo visto serão sabores como pão com ovo, churrasquinho de gato e suco de groselha. Até a próxima!
E AGORA confira em primeira mão a capa do Jornal Sensação de amanhã.
Ó céus! Até bateu um arrependimento. Qual será minha primeira matéria? Lobisomem do Madre Germana? As polêmicas da mulher-pequi? Briga no terminal Praça A? O que abre e o que fecha no feriado? A revolta de emos do Vaca Brava? Melhor não pensar demais, vamos deixar que cada dia traga seu sabor, e pelo visto serão sabores como pão com ovo, churrasquinho de gato e suco de groselha. Até a próxima!